segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Era uma vez uma parede branca e uma gaiola

Era uma vez uma parede branca e uma gaiola. Pendurada em uma parede branca e infinitamente alta, estava um gaiola dourada, brilhante e com belos traços delicados. Gaiola mais bela nunca se tinha visto antes. Do topo da gaiola, acompanhando as douradas hastes, desciam sedosas cortinas peroladas que partiam do topo, faziam dois laços, um em cada lado da gaiola, e desabavam serenamente sobre o chão amarelo brilhante. Enroladas nelas, brincavam dois pequenos gatinhos peludos. Um era branco de olhos negros, de nariz achatado e rabo comprido e peludo. O outro era pardo de três cores, olhos azuis acinzentados, um pouco menor que o seu alvo irmão. Brincavam ao som de notas musicais saídas do pequeno rádio branco sobre a estante marrom avermelhada. Ao lado desta estante, dormia tranquilamente um cão branco com manchas marrons claras de grande porte. A música era doce, banhava o belo sofá vermelho de grandes almofadas com uma paz indescritível. A vista da gaiola era deslumbrante. Viam-se os cílios nos puxados olhos dos chineses e dos japoneses, o peixe com batatas servido na casa dos ingleses, o azulejo rachado do Louvre dos franceses, o delicado brinco da jovem italiana, o botão do rádio do carro do americano, o pólen na abelha recém colhido da mesma flor avermelhada que infestava o ar com um odor agradável. Odor que passava dentro da fechadura trancada da porta da gaiola, dividindo espaço com a chave dourada firmemente encaixada na trava interna, que mantinha a porta trancada. Tão perfeitamente encaixada que uma leve volta bastaria para abri-la sem esforço. Suspensos no ar, logo abaixo da pequena porta, encontravam-se dois pezinhos. Eles balançavam para lá e para cá, tão rápidos quanto o lento ritmo da música. Dois pés vestidos com tênis bem amarrados de longos cadarços. As meias curtas nas canelas não escondiam a fina corrente prateada no tornozelo direito, e a saia, por sua vez, escondia um pesado livro de capa dura sobre o colo. Na altura do joelho, encontravam-se rendas cobertas com um tecido leve, o mesmo que cobria os ombros, misturando-se com os fios de cabelo castanhos ondulados. Cabelos estes que brincavam sobre os braços, descansados na ultima delicada linha de metal dourado, escondendo o brilho dos olhos castanhos, quase pretos, da menina que tristemente observava as luzes fora da gaiola. Ela havia entrado ali por escolha própria, nunca tinha sentido tanta atração pela vida aprisionada. Os dedos brincavam com um lápis de cor branca, tirado da grande caixa de madeira com dúzias de cores, as quais se encontravam espalhadas sobre o tapete - a cor azul perigosamente rolara para perto da beirada. Ela movia a ponta do lápis no contorno das grandes nuvens no céu azul. Ela sabia bem porque estava infeliz. Sentia falta da vida de vôos rasantes nos mares e lagos deste mundo, com vento passando veloz pelos longos cabelos. Ela sabia, também, que podia usar a chave da porta a hora que desejasse, mas que nunca conseguiria achar novamente uma gaiola tão satisfatória quanto aquela na qual ela tristemente sonhava com a chuva escorrendo livremente no seu corpo. Por hora, ela vive neste dilema, mas contar-te-ei o que vai acontecer. Ela vai deixar a saudade, mais uma vez, presa na gaiola e vai se jogar dela para saciar as asas com vôo livre, sussurrando a frase que já a havia atormentado em sonhos: "que me venham estes horizontes."

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Divagações


Ah, essa vontade de ficar sozinha, de viajar sozinha, de deixar o celular em casa e não falar com ninguém. Ah, como eu queria esquecer de tudo, só por um minuto, pra encontrar tudo de novo que se criou em mim. Ah, que vontade de ter tempo pra botar as coisas no lugar, de me conhecer melhor, de decidir qual Rafaela eu vou ser daqui pra frente. Ah, que saudade daquele tempo que a saudade ardia em chamas, que a vida era só um detalhe, que eu vivia ocupada demais estando feliz. Ah, pra onde foram todas as certezas, todas as respostas, toda a fé? Ah, sou mutável demais, inconstante demais, diferente demais. Ah, eu sei o quão difícil é achar mãos leves onde os pássaros pousam livres, mas existem outras maneiras de se aprisionar as asas da mente sem usar uma gaiola.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Discrição

Gosto tanto, discretamente, quase secretamente, desse seu carinho discreto, desse seu jeito discreto, desse seu abraço apertado, desse seu sorriso discreto, discretamente dizendo que o coração bate mais forte. Gosto tanto da sua mão quentinha nas minhas costas, na minha cintura, no meu pescoço, do seu cheiro que fica nas minhas mãos e me tira o sono, desse seu beijo que foi feito pra encaixar no meu, do timbre da sua voz sussurrando músicas no meu ouvido antes de dormir. Sinto, discretamente, quase
secretamente, sua falta.

domingo, 9 de novembro de 2008

Coisas que nunca vou dizer


Têm coisas que eu nunca vou dizer,
coisas que eu nunca vou dizer,
nunca vou dizer,
nunca.

domingo, 2 de novembro de 2008

Bomba Relógio

Por favor, não me diga que a vida vai ser sempre assim, corrida, atarefada. Que ela vai passar assim, rápida, despercebida. Por favor, não me diga que eu poderia escolher não trabalhar, que eu poderia escolher um curso mais fácil, pago, só porque eu poderia pagar por um. Por favor, não me faça ignorar o fato de que milhares de pessoas trabalham e estudam e cuidam dos filhos e cuidam das famílias, sem ter escolha, sem ter tempo, sem ter dinheiro. Por favor, não me diga que vou ter que sempre esperar pelas férias para ler os livros que tenho vontade, para escrever as coisas que tenho vontade, para rever os velhos amigos quando der vontade, pra fazer arte quando der vontade, pra arrumar o meu quarto quando der vontade. Por favor, não me diga que vou ter que sempre viver pela metade, que vou sempre estar cansada demais pra ver quão belo está o dia, pra ver quão bela é a cidade, pra ver quão bela é a florzinha no chão do meu caminho pra casa. Justo eu, justo eu que notei, indignada, o quão despercebido estava o sol rubro do entardecer aos olhos das pessoas no ônibus. Pobres pessoas no ônibus. Eu as fuzilando com os olhos e elas estavam apenas cansadas demais, apenas pensando no pouco tempo que teriam para brincar com os filhos, no pouco tempo que teriam para passear com o cachorro, no pouco tempo que teriam até a hora de dormir, pra depois disso acordar e pensar no pouco tempo que teriam para tomar café e partir. Partir pra mais um dia de cheiros, de sons, de pessoas, de detalhes, todos ignorados e despercebidos. Por favor, não me diga que isto é vida, por favor, não me diga que isto é que é viver.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Raras lágrimas de um amigo


Enquanto o céu desesperadamente chora lá fora eu leio aqui sobre as raras lágrimas derrubadas por um all star preto qualquer. Leio aqui sobre as suas angústias tão bela e inesperadamente desenhadas em forma de escrita.
Se nem as várias gotas de água salgada que formam fortes ondas conseguem acalmar a tristeza do mar, como poderia uma pequena lágrima de água salgada acalmar a tristeza do mundo? Vou te contar um segredo, amigo: escreve! Escreve, que escrevendo o aperto do peito diminui, escreve pra que as suas lágrimas sejam lidas, escreve mesmo se for falar de "metalinguagem sem meta", "de política e corrupção, de cupido trapalhão, [de] cidadão sem opinião". Escreve pra me deixar de queixo caído como agora estou.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Conhecimento(s)

Céu azul de nuvens brancas, para o romântico, é a certeza de estar vendo a mesma cena que a amada a quilômetros de distância. Céu azul de nuvens brancas, para o físico, são pequenas moléculas que refletem, cada uma a sua maneira, a luz branca vinda do sol. Céu azul de nuvens brancas, para o astrônomo, é o alívio de saber que o sol ainda não cresceu o suficiente para nos engolir por completo. Céu azul de nuvens brancas, para o carrinheiro, é um dia de trabalho sem frio ou chuva. Céu azul de nuvens brancas, para o ordinário, é apenas mais um dia com céu azul de nuvens brancas. Céu azul de nuvens brancas, para o filósofo, é apenas uma ilusão dos sentidos. Tudo não depende do contexto no qual você pensa? Como se tira conclusões se a sua conclusão vai ser só mais uma dentre tantas outras?

sábado, 27 de setembro de 2008

Vertigar

Tudo o que nós sentimos não se limita à mera classificação de paixão e amor. Aqueles que falam mais de uma língua vão concordar comigo que, as vezes, é muito difícil explicar ou pensar coisas subjetivas na língua não-nativa com a mesma versatilidade que na primeira língua. Será, então, que nós convencionamos modos de se atrair uns pelos outros culturalmente? Será que no "desenvolvimento" (sim, aspas, já que desenvolvimento é uma palavra perigosa) das línguas, não se criam palavras objetivas com significados subjetivos para "sentir-se atraido", e nós, por mais que sentíssemos algo diferente, colocamos o que sentimos na classificação já existente? Desculpem, leitores, se escrevo rápido demais e pulo muitas etapas do pensamento, mas "I can't help it", nem eu sei bem sobre o que eu estou falando. De qualquer forma, e se eu inventasse um novo lexico? Que tal vertigar, verbo transitivo direto? Eu vertigo, tu vertigas, ele vertiga.

Olho pra baixo, o céu, as estrelas e a lua parecem entrar no meu peito, ignorando a falta de espaço e tirando-me o ar por completo. Olho pra baixo, pro seu all star branco e sujo, pros seus cabelos louros e lisos, pros seus olhos castanhos de longos cílios e a vertigem é quase infinita. Eu o vertigo, vertigo-o demais. Mas não te quero, não te amo, não estou apaixonada. Apenas vertigo-o.

sábado, 23 de agosto de 2008

Veteranos e vassalos

Hoje, eu acordei. Abri meus olhos e vi! Vi as mesmas coisas que sempre via, escutei as coisas que sempre ouvia, mas elas estavam tão diferentes! Eu voava alto, sentia o vento. Eu via pessoas coladas no chão, algemadas ao chão, presas ao chão, olhando pro chão, conversando sob o chão sobre o chão, sem mover um músculo. Embora eu as tocasse, tentasse fazer com que elas olhassem para cima, pro céu sem limites que elas estavam perdendo de ver, elas continuavam imóveis, apenas exisitindo, subexistindo, coexistindo com o chão. E com o céu. Mas este, elas se recusavam a conhecer. Talvez o chão fosse menos assustador, fosse mais seguro, mais sólido. Já eu, ah, eu dava piruetas no ar! E como eu estava feliz. Só podia lamentar pelas pessoas lá em baixo, apesar de, vez ou outra, tentar, inutilmente, voltar suas faces para cima sem sucesso. Ai! Uma pedra me acerta, em cheio, no ombro. Olho pra cima e sinto os olhos lacrimejarem. Muito claro. Vejo apenas vultos, uns com expressões tensas, outros sérios, outros ainda com sorrisos deboxados. E eu achava que voava tão alto! Com que asas chegaram até lá estas pessoas? Quero-as também, as asas. Ai! Mais uma pedra. Por que me agridem, me machucam, me detestam, me ironizam, me riem, me excluem? Não quero ser como eles, mas quero ver o que eles veêm, da altura que eles veêm. Um dia meus olhos ainda se acostumam com a claridade.

domingo, 10 de agosto de 2008

Escola de areia

Eu queria estudar. Queria estudar aqui mesmo sentada nesta cadeira na beira da praia. Tragam os professores. Vamos estudar o valor da vida, vamos debater se ela vale ser vivida, se ela se quer vale alguma coisa. Tragam os artistas. Vamos esticar uma folha branca de metros de comprimento na areia e usar as mãos banhadas em tinta pra pintar o que a alma pedir. Tragam os matemáticos. Pra mostrar aos nossos olhos leigos como tudo neste universo são números. Quero estudar a vida, quero estudar soluções, quero estudar o amor e todo o seu complexo. Quero construir escolas de areia. Nas minhas escolas de areia todos vão estudar aquilo que tiverem vontade. Tragam bolas de futebol, arco e flechas, violões e violinos. Tragam tinta e pincel, tragam livros de Rousseau, de José de Alencar, de Edgar Allan Poe. Tragam idéias, experiências, curiosidade, criatividade. Tragam todos os países, quero todos os países! Tragam a bíblia, o corão. Tragam cachorros, gatos, cavalos, passarinhos, tragam a arca de Noé inteira! Temos espaço para tudo na minha escola de areia, seja bem vindo.

E lá se vão ao vento os pequenos grãos da minha escola. Mas não tentem segurá-los no lugar, alunos, eles estão indo levar as nossas idéias à outras mentes.

Vizinho de janela

Deixei-te lá e nem lembro que você respira. Virou lembrança que só vem com esforço da memória. E você, será que lembra de mim? Será que lembra da garota dos olhos atentos às suas janelas? Que quase perdeu o coração pras estrelas ao ver seus cabelos molhados e a cor da sua pele contrastando com a toalha branca que te cobria a cintura? Ah, irresistível... Ainda tenho a face rubra ao lembrar do momento que encontrei teus olhos depois de ter degustado com os meus tudo o que a toalha não cobria. Tomara que não seja bom leitor de sorrisos discretos, vizinho, posso ter te contado, naquele momento, o quanto te desejava. E te quis por três dias. Te quis loucamente por três dias e você nem olhares me deu. Vou mandar esses seus cabelos cedosos cujo cheiro desconheço para o inferno. Vai, que não te desejo mais. Assim, de longe, sem a visão do seu belo rosto, não consegue me atrair com essa sua indiferença. (Julho 2008)

Imaginação

Os olhos ansiosos esperam você passar pela porta de vidro ao som de aviões pousando. Sei, porém, que no fundo eles esperam por outra pessoa, sei que no fundo são olhos azuis que os meus procuram. O abraço de saudade é-me frio. Não são esses seus braços que me envolvem, não é esse seu coração pulsante, não são essas suas mãos de poeta que eu esperava. O coração bate tão forte e o peito machuca tanto, que sinto as lágrimas virem aos meus olhos ao som da sua voz falando aquela língua.
Sinto tanto a falta dele, daquele cujo abraço não vou sentir, daquele cujos lábios não vou beijar.

Sorriso

Têm vezes que se sente minúsculo, sobrecarregado, impotente, envergonhado, ignorante, angustiado, indeciso, ingênuo, inseguro, um grãozinho de areia na praia sem força, sem fôlego, sozinho no meio de tantos outros. Têm vezes que se sente o vento no rosto e pensa estar voando, mas nem percebe que o chão se aproxima e o vento que se sente é o vendo amargo da queda. Têm vezes que se esquece de, antes, fazer o bem para si pra depois fazer o bem para outros: muitos chamam de individualismo, muitos outros também chamam de inteligência. Têm vezes que as bombas no Iraque são silenciosas comparadas com a guerra que acontece nas veias de sangue ácido e que se veste um sorriso, uma máscara pra ninguém desconfiar, pra ninguém entrar no fundo que se quer esconder, abafar, sinlenciar, esquecer. E em todas essas vezes, o grito desesperado por paz é calado. Afinal, gritar pra que? Gritar pra quem? (Abril/Março 2008)

Café com torradas


Ah, extremista, como sofre - a toa! Não sabe que a resposta está sempre no meio? Sou muito mais o meu café com torradas e o coração leve. (Abril 2008)

Canção de ninar

Gotas pretas de maquiagem lavam o meu rosto bem pintado e borram os meus lábios caprichosamente delineados de vermelho.

O desespero do pai em ver a cria tomar o proprio rumo aflora numa face de lobo cedento de sangue. É o medo de perder o troféuzinho sorridente da sua estante que coloca em cada palavra um tom de ditador. Enquanto ele diz como as coisas são, como elas deveriam ser e como eu não sou como ele gostaria que eu fosse, as lágrimas banham os meus cabelos de cachos bem feitos para a festa que eu escolhi não ir. (Junho 2008)

Arrepio

Eu adoro a brisa que vem do mar. Esse vento de cheiro salgado, que bate na pele das coxas e arrepia os pêlos do corpo tanto quanto a água quente do chuveiro escorrendo nas curvas das costas. (Julho 2008)

Cenouras


Eu odeio cenouras. Cenoura ralada (bem) misturada na salada eu gosto. Gosto até da cenoura naquele negócio bom que a minha mãe faz de maionese, cenoura ralada, batata palha e milho verde. Bolo de cenoura com cobertura de chocolate é a melhor coisa que já inventaram, perde só pra sorvete e pro brigadeiro da Mi, mas cenouras puras nem pensar. Não sei como botaram aquelas cenourinhas no Mc Donalds, que pessoa em sã consciência troca batatinhas fritas por cenouras? Ah, eles estão muito preocupados com a saúde das pessoas terrestres: "eu quero um número um com coca grande, uma tortinha de maçã, um topsundae de chocolate e cenourinhas"; aha, tá. E olha que eu estou tentando tirar os fastfoods da minha relação de lugares-apropriados-para-se-comer, o que, infelizmente, não diminui muito a lista e não contribui tanto assim com os meus quilos em excesso. Quer dizer, quem se importa com cenouras? O coitado do coelhinho da páscoa tem que posar pr'aquelas fotos de páscoa com uma cenoura na mão tendo um milhão de quilos de chocolate em volta. Ninguém - repito, ninguém - troca chocolate por cenouras. Apesar de que pro coelho da páscoa deve ser um tanto complicado, ele deve se achar meio canibal comendo chocolate. Canibal, entendeu? Hahahahaahahaha, er. Enfim, eu viveria perfeitamente bem se não existissem mais cenouras no mundo. Não, não, eu sentiria falta do bolo. Eu viveria perfeitamente bem sem cenoura cortada em rodelas, isso sim. Eu aqui falando de cenouras e você continua lendo. Ou você ama cenouras e quer me enforcar, ou você compartilha este ódio e quer casar comigo, ou você também compartilha a obsessão por coisas escritas e nem liga pra tal da cenoura, ou você é só uma pessoa estranha como todas as outras. Sei lá, só sei que não como cenouras, nem no melhor restaurante da França. Se eu tivesse que comer cenouras na França eu ia passar a maior vergonha, seria muito difícil fazer cara de eu-gostei-dessa-droga-com-gosto-de-chulé se tivesse cenouras no meio. Blá, blá, blá, cansei de falar das cenouras.

Freedom


Quero a liberdade! Pra onde ela foi? Volta! Volta, que eu te quero. Quero já, por favor! Por favor...

Colombo


Os pés me levam pelo caminho de casa, mas nem percebo - a mente se perde nos poemas que os olhos lêem, mania esta minha de ler andando. O livro que carrego é leve, fácil de segurar. Os cordões desamarrados do tênis me tiram do devaneio, brincando com o mesmo vento que sinto acariciar-me os cabelos e beijar-me a boca. Acordo do mundo que me criei e me encontro na praça que mais gosto. Sento-me pra escrever o que a ponta da caneta aqui escreve e a praça não poderia estar mais bela, o silencio e o vento e o sol a inundam, beleza que só explicaria um poeta. Me afogo aqui, junto com grama e flores e plantas e lá se vai a garrafa jogada por alguém. Então, descubro-me amando. Amando loucamente o céu e o ar que a cobrem, cidade. Te amo tanto! E nem sabia. (Junho 2008)