sábado, 23 de agosto de 2008
Veteranos e vassalos
Hoje, eu acordei. Abri meus olhos e vi! Vi as mesmas coisas que sempre via, escutei as coisas que sempre ouvia, mas elas estavam tão diferentes! Eu voava alto, sentia o vento. Eu via pessoas coladas no chão, algemadas ao chão, presas ao chão, olhando pro chão, conversando sob o chão sobre o chão, sem mover um músculo. Embora eu as tocasse, tentasse fazer com que elas olhassem para cima, pro céu sem limites que elas estavam perdendo de ver, elas continuavam imóveis, apenas exisitindo, subexistindo, coexistindo com o chão. E com o céu. Mas este, elas se recusavam a conhecer. Talvez o chão fosse menos assustador, fosse mais seguro, mais sólido. Já eu, ah, eu dava piruetas no ar! E como eu estava feliz. Só podia lamentar pelas pessoas lá em baixo, apesar de, vez ou outra, tentar, inutilmente, voltar suas faces para cima sem sucesso. Ai! Uma pedra me acerta, em cheio, no ombro. Olho pra cima e sinto os olhos lacrimejarem. Muito claro. Vejo apenas vultos, uns com expressões tensas, outros sérios, outros ainda com sorrisos deboxados. E eu achava que voava tão alto! Com que asas chegaram até lá estas pessoas? Quero-as também, as asas. Ai! Mais uma pedra. Por que me agridem, me machucam, me detestam, me ironizam, me riem, me excluem? Não quero ser como eles, mas quero ver o que eles veêm, da altura que eles veêm. Um dia meus olhos ainda se acostumam com a claridade.
domingo, 10 de agosto de 2008
Escola de areia
Eu queria estudar. Queria estudar aqui mesmo sentada nesta cadeira na beira da praia. Tragam os professores. Vamos estudar o valor da vida, vamos debater se ela vale ser vivida, se ela se quer vale alguma coisa. Tragam os artistas. Vamos esticar uma folha branca de metros de comprimento na areia e usar as mãos banhadas em tinta pra pintar o que a alma pedir. Tragam os matemáticos. Pra mostrar aos nossos olhos leigos como tudo neste universo são números. Quero estudar a vida, quero estudar soluções, quero estudar o amor e todo o seu complexo. Quero construir escolas de areia. Nas minhas escolas de areia todos vão estudar aquilo que tiverem vontade. Tragam bolas de futebol, arco e flechas, violões e violinos. Tragam tinta e pincel, tragam livros de Rousseau, de José de Alencar, de Edgar Allan Poe. Tragam idéias, experiências, curiosidade, criatividade. Tragam todos os países, quero todos os países! Tragam a bíblia, o corão. Tragam cachorros, gatos, cavalos, passarinhos, tragam a arca de Noé inteira! Temos espaço para tudo na minha escola de areia, seja bem vindo.
E lá se vão ao vento os pequenos grãos da minha escola. Mas não tentem segurá-los no lugar, alunos, eles estão indo levar as nossas idéias à outras mentes.
E lá se vão ao vento os pequenos grãos da minha escola. Mas não tentem segurá-los no lugar, alunos, eles estão indo levar as nossas idéias à outras mentes.
Vizinho de janela

Imaginação
Os olhos ansiosos esperam você passar pela porta de vidro ao som de aviões pousando. Sei, porém, que no fundo eles esperam por outra pessoa, sei que no fundo são olhos azuis que os meus procuram. O abraço de saudade é-me frio. Não são esses seus braços que me envolvem, não é esse seu coração pulsante, não são essas suas mãos de poeta que eu esperava. O coração bate tão forte e o peito machuca tanto, que sinto as lágrimas virem aos meus olhos ao som da sua voz falando aquela língua.
Sinto tanto a falta dele, daquele cujo abraço não vou sentir, daquele cujos lábios não vou beijar.
Sorriso
Têm vezes que se sente minúsculo, sobrecarregado, impotente, envergonhado, ignorante, angustiado, indeciso, ingênuo, inseguro, um grãozinho de areia na praia sem força, sem fôlego, sozinho no meio de tantos outros. Têm vezes que se sente o vento no rosto e pensa estar voando, mas nem percebe que o chão se aproxima e o vento que se sente é o vendo amargo da queda. Têm vezes que se esquece de, antes, fazer o bem para si pra depois fazer o bem para outros: muitos chamam de individualismo, muitos outros também chamam de inteligência. Têm vezes que as bombas no Iraque são silenciosas comparadas com a guerra que acontece nas veias de sangue ácido e que se veste um sorriso, uma máscara pra ninguém desconfiar, pra ninguém entrar no fundo que se quer esconder, abafar, sinlenciar, esquecer. E em todas essas vezes, o grito desesperado por paz é calado. Afinal, gritar pra que? Gritar pra quem? (Abril/Março 2008)
Café com torradas
Canção de ninar

O desespero do pai em ver a cria tomar o proprio rumo aflora numa face de lobo cedento de sangue. É o medo de perder o troféuzinho sorridente da sua estante que coloca em cada palavra um tom de ditador. Enquanto ele diz como as coisas são, como elas deveriam ser e como eu não sou como ele gostaria que eu fosse, as lágrimas banham os meus cabelos de cachos bem feitos para a festa que eu escolhi não ir. (Junho 2008)
Arrepio
Eu adoro a brisa que vem do mar. Esse vento de cheiro salgado, que bate na pele das coxas e arrepia os pêlos do corpo tanto quanto a água quente do chuveiro escorrendo nas curvas das costas. (Julho 2008)
Cenouras

Eu odeio cenouras. Cenoura ralada (bem) misturada na salada eu gosto. Gosto até da cenoura naquele negócio bom que a minha mãe faz de maionese, cenoura ralada, batata palha e milho verde. Bolo de cenoura com cobertura de chocolate é a melhor coisa que já inventaram, perde só pra sorvete e pro brigadeiro da Mi, mas cenouras puras nem pensar. Não sei como botaram aquelas cenourinhas no Mc Donalds, que pessoa em sã consciência troca batatinhas fritas por cenouras? Ah, eles estão muito preocupados com a saúde das pessoas terrestres: "eu quero um número um com coca grande, uma tortinha de maçã, um topsundae de chocolate e cenourinhas"; aha, tá. E olha que eu estou tentando tirar os fastfoods da minha relação de lugares-apropriados-para-se-comer, o que, infelizmente, não diminui muito a lista e não contribui tanto assim com os meus quilos em excesso. Quer dizer, quem se importa com cenouras? O coitado do coelhinho da páscoa tem que posar pr'aquelas fotos de páscoa com uma cenoura na mão tendo um milhão de quilos de chocolate em volta. Ninguém - repito, ninguém - troca chocolate por cenouras. Apesar de que pro coelho da páscoa deve ser um tanto complicado, ele deve se achar meio canibal comendo chocolate. Canibal, entendeu? Hahahahaahahaha, er. Enfim, eu viveria perfeitamente bem se não existissem mais cenouras no mundo. Não, não, eu sentiria falta do bolo. Eu viveria perfeitamente bem sem cenoura cortada em rodelas, isso sim. Eu aqui falando de cenouras e você continua lendo. Ou você ama cenouras e quer me enforcar, ou você compartilha este ódio e quer casar comigo, ou você também compartilha a obsessão por coisas escritas e nem liga pra tal da cenoura, ou você é só uma pessoa estranha como todas as outras. Sei lá, só sei que não como cenouras, nem no melhor restaurante da França. Se eu tivesse que comer cenouras na França eu ia passar a maior vergonha, seria muito difícil fazer cara de eu-gostei-dessa-droga-com-gosto-de-chulé se tivesse cenouras no meio. Blá, blá, blá, cansei de falar das cenouras.
Freedom
Colombo
Os pés me levam pelo caminho de casa, mas nem percebo - a mente se perde nos poemas que os olhos lêem, mania esta minha de ler andando. O livro que carrego é leve, fácil de segurar. Os cordões desamarrados do tênis me tiram do devaneio, brincando com o mesmo vento que sinto acariciar-me os cabelos e beijar-me a boca. Acordo do mundo que me criei e me encontro na praça que mais gosto. Sento-me pra escrever o que a ponta da caneta aqui escreve e a praça não poderia estar mais bela, o silencio e o vento e o sol a inundam, beleza que só explicaria um poeta. Me afogo aqui, junto com grama e flores e plantas e lá se vai a garrafa jogada por alguém. Então, descubro-me amando. Amando loucamente o céu e o ar que a cobrem, cidade. Te amo tanto! E nem sabia. (Junho 2008)
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