segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Para minha amiga Glaucia

Pegue uma tigela, misture sorrisos bonitos com olhos castanhos claros cativantes e uma pitada generosa de coragem. Depois de colocar tudo no forno, adicione uma boa dose de insanidade fiskiana por cima. Voilà! Até parece que ela é de comer. Não que ela não seja, mas enfim, deixa pra lá. Ela está sempre com um elogio conveniente na ponta da língua e é sem dúvida uma ótima companhia de bar - tirando as vezes que ela vai a bares para maior de 21 anos. Ela é absolutamente dourada por dentro e por fora, mas ela vai jurar de pé junto que sua cor favorita é roxo. E, por fim, o seu maior defeito de todos os tempos, muito próximo do imperdoável, inadmissível e até inacreditável, é gostar de cenouras.
(amigo secreto Fisk, 13/12)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

6 de Dezembro

Se antes eu tinha certeza de mais de quem eu era, hoje tenho certeza de menos. E foi justo aquilo de que eu mais sentia falta que me tornou assim, difusa. Quanto mais me envolvo, mais perco partes de mim, mais perco a certeza de saber o que quero ser. O que antes me assustava, passou a me fascinar e agora me entedia. Eu sabia que sair do canto seguro teria as suas conseqüências, e tenho agora todos os espaços abertos. O gramado se estende a muitos metros em minha volta. Sento aqui, as pernas cruzadas de índio, os olhos fechados. Concentro-me na temperatura do ar, nos cheios, no vento. Esperando não ter meu estádio destruído.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Relíquias do cotidiano

- Vamos fugir, amor?
- Vamos... Só espera até meio-dia que esse curso é importante.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Encantos (parte II)

Gosto de pinta. Assim, no feminino mesmo. Gosto das pintas marrom-claras dos teus ombros macios e robustos.

domingo, 26 de julho de 2009

Super heróis

Sempre achei graça nessa coisa de relacionamento. As pessoas se aproximam por terem os mesmo gostos musicais, por terem as mesmas inquietações intelectuais, por terem a mesma cor de cabelo, por saberem dos seus e dos meus defeitos. As pessoas não se aproximam de pessoas perfeitas. Se você não deixar transparecer os seus defeitos, elas te olham de longe, contemplando o ser inexistente, contemplando esse ser insistente em querem parecer não-humano. Mas eles parecem gostar de ser não-humanos. Nunca vi ninguém que nunca tivesse feito mal a ninguém, mesmo que não intencionalmente, mas já ouvi inúmeras descrições de seres não-humanos do tipo de causar calafrio pela existencia de tamanha bondade. O duro é saber que elas não existem. Puxa, nossos heróis não existem! Nunca vi ninguém que correspondesse às expectativas dos pais, dos amigos, do chefe, do namorado e do cachorro ao mesmo tempo. Os pais sempre vão achar que você é rebelde, os amigos vão sempre achar que você mudou para pior, o chefe vai sempre achar que você é incompetente - ou competente demais -, o namorado vai sempre achar que você não se abre, e o cachorro vai sempre achar que você é um dono ausente. Mas (tchan, tchan, tchan) os super seres não-humanos chegaram pra nos salvar de todo esse pecado, do inferno, do diabo e tudo o mais. Esses seres conseguem ser bons com todos! Ah, não? Esses aí também não são reais? Mas que diabos! Digo, Deus do céu! Isso porque eu não quero ir para o inferno, só os seres humanos vão para o inferno.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Procastination

Eu queria mesmo era ser chef de cozinha, que sem vinho chileno não cozinharia nada. E que anotações de coisas passíveis de serem esquecidas na agenda valessem mais do que ouro. Assim eu poderia comprar a melhor das câmeras de fotografia, muito pé-de-moleque, uma livraria e um sebo inteiros, e todos os acessórios disponíveis para animais de estimação.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Para o meu amigo Nathan

It seems she never listens
She never speaks
I always give her a message to send
She never seems to understand
Every single night I beg
But it seems she will forever forget
I lie on the ground and stare
The only thing she will ever carry
Is the light shinning in my eyes
Is the burning chest that keeps me alive
Is the love message I ask her to send
With no words but feelings

No matter where he is
When the moon light
Touches his chest
He will know everything I meant once
Staring at the moon
(Algum mês extinto de 2006)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

João e Maria

Crianças em overdose de doce. Adultos em overdose de doce. Bala em baixo da lingua, o mundo girando, as cores mais fortes.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Com-ciência

A minha consciencia é a parte bruta de mim. Hoje mesmo ela disse: tira esse sorriso estúpido da cara, Rafaela.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Encantos (parte I)

Todos os dias, a primeira coisa que olho em você são seus olhos. Atrai-me a eles como um imã a curiosidade de saber se castanhos claros estão ou castanhos esverdeados. Encanta-me esse mistério calado que eles revelam, mas que aprendi a por ele não perguntar. Encanta-me essa alma arisca, indomável, revolta, combinada com abraços e enlaços de braços quentes e fortes. Encanta-me o seu queixo encostando no meu, rígido, enquanto os seus lábios sorvem os meus em grandes goles, como beijo de saudade irremediável.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Desejos mundanos

Queira uma casa grande
Queira a melhor universidade
Queira o melhor trabalho
Queira o maior salário
Queira uma piscina azul bem no meio do seu jardim
Queira o carro do ano
Queira emagrecer mais rápido
Queira ser sempre o melhor em tudo
Queira as melhores roupas
Queira o melhor status
Queira um nariz empinado por tudo aquilo que você não é
Queira ser
Queria ser alguém importante
Queira ser ouvido
Queira salvar o mundo
Queira a revolução
Queira que Deus esteja sentado em uma grande poltrona dourada
Queira encher a cara
Queira usar drogas
Queira fumar até os pulmões apodrecerem
Queira morar sozinho
Queira ser independente
Queira que o tempo pare de passar
Queira ser um leitor assíduo
Queira ter vários livros na estante para mostrar aos amigos
Queira assistir os melhores filmes
Queira ser intelectual
Queira descobrir o mistério da vida

Eu,
bem,
eu sempre quis um cachorro.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Felicidade frágil

Sempre soube que a paz de espírito era difícil de atingir, também sempre soube que a felicidade se sentia bem-vinda onde havia paz de espírito. Por quase um ano e meio eu desconheci a paz de espírito. Por quase uma semana eu a tenho experimentado. Por quase uma semana eu pouso, ousadamente, na última carta do castelo de baralhos que montei. Por quase uma semana eu soube como era não precisar enganar a mente pra que ela não mostrasse imagens que eu não queria ver. Essa quase semana acabou ontem. Ontem eu fui sincera demais, ontem eu achei que conseguiria vencer uma batalha, mesmo que pequena, contra a hipocrisia. Ontem eu cometi um erro cujos traços não se apagarão na contagem infinita dos segundos. Mas tomei uma decisão. Tomei uma decisão de uma vez por todas! Resta-me, agora, juntar as cartas de baralho, violentamente espalhadas pelo chão, e remontar o castelo, no qual eu irei, novamente, regar a semente da felicidade. Desta vez, no entanto, terei de ser especialmente cuidadosa: será a primeira vez que o montarei dentro de uma gaiola.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A menina e o barco

O barco perguntou à menina:
-Vem, menina, sobe aqui. Vou levar você pra passear.
O barco era belo, parecia seguro. Mas a menina desconfiada de barcos que era, hesitou antes de fazer qualquer movimento.
-Vem, menina, vou te mostrar quão bela é a noite de nuvens cinzas e céu azul escuro.
A menina tirou o primeiro pé do chão, seco e sólido, e o firmou cuidadosamente dentro do barco. Este deu uma leve balançada, que quase fez a menina desistir da audácia. Mas o vento da noite pareceu segurar-lhe a mão para que ela não ousasse tirar o pé dali, quase deu um empurrãozinho para que ela firmasse, finalmente, o segundo pé, embarcando por inteiro naquele terreno desconhecido, úmido e instável.
Conhecia bem estes barcos, a menina. A última vez que ela resolveu que era hora de largar a terra firme e ir passear em um barco, ele viajou com ela por longas distâncias, contou a ela milhões de histórias sobre cidades frias, comidas e costumes estranhos, e, repentinamente, desapareceu como faz o mágico com a pomba em um lenço. Sumiu sem deixar vestígios, desapareceu, desintegrou-se no ar. A menina, quando se deu conta, batia-se contra as negras ondas do lago, que de tão frias enfiavam agulhas doloridas em todas as partes do seu corpo.
Ela sentou, tensa, na taboa do meio. Olhos para o local onde a poucos segundos haviam habitado os seus pés. Apertou as bordas do barco como isso fosse garantir que ele não desapareceria. Colocou as mãos entre os joelhos, como que para aquecê-las, e só então se deu conta dos mais diversos objetos que se encontravam no chão do barco.
Uma coberta, um galho de árvore, um remo, cordas, chocolate, um livro e música. O barco, notando que a menina olhava com curiosidade para tais objetos, resmungou:
-Sempre estiveram aí.
-Posso ver? perguntou a menina
O barco deu de ombros e respondeu:
-Como quiser.
A coberta era macia e quente, fazia carinho na pele. O livro, intitulado de "Como fazer uma vela com um galho, uma coberta e cordas" era pequeno, de poucas palavras e muitos desenhos. Ela seguiu os passos e encaixou no fundo do barco o galho, já muito parecido com uma vela. Quando assim o fez, o barco aumentou de velocidade, o que fez com que a menina tentasse agarrar todo e qualquer material na borda do lago que pudesse diminuir a velocidade, ela quase de desespero pulou, de uma vez por todas, para o lago frio. Arrancou a vela improvisada arfando como se tivesse corrido quilômetros. O barco quando viu a restrição da menina quanto à velocidade, fez com que as águas passassem mais devagar pelo seu casco, navegou calma e cautelosamente. Isso, decerto, fez com que a menina se acalmasse.
O barco sugeriu que ela vestisse o cobertor e deitasse no seu peito, pra que assim ele pudesse lhe contar histórias daquela música que infestava o ar com seu cheiro doce, enquanto eles observavam a lua sorridente no céu cheio de estrelas. Essa história puxou muitas outras, passaram os dois, o barco e a menina madrugada a fora contando histórias, memórias e glórias. Ela estava devidamente aquecida e devidamente entretida nas histórias pra perceber o aumento da velocidade no barco. Isso era, possivelmente, sinal de que o barco estava feliz. Ele a segurava contra o peito como se ela fosse sair gritando como já havia feito anteriormente. Adormeceram os dois sob a luz fraca das estrelas e o balanço suave do mar.
No dia seguinte, quando o barco acordou, percebeu que a velocidade havia aumentado, e que desta vez não havia sido ele! Surpreso, ele olhou a menina remando desajeitada, duas vezes para um lado, duas vezes para o outro.
-Estou gostando, justificou ela
-Também estou. Pega um chocolate e deixa eu te contar mais uma história.
Coutou-lhe histórias de outras meninas que haviam sentado naquele mesmo lugar que ela estava agora. Contou-lhe como elas brutalmente pularam do barco, virando-o de cara para o rio congelado, derrubando tudo aquilo que eles haviam colecionado juntos. Ela prometeu-lhe pedir pra ele encostar na borda do lago assim que ela quisesse descer, de forma a não deixar nenhum dos dois vulnerável às águas de agulhas.
O barco estava perdido em pensamentos, quando reparou a menina parada em pé no barco. Ele gritou, desesperadamente:
-Não pule!
Ela olhou-o nos olhos e disse em tom de brincadeira:
-Só se for pular para os seus braços!
Só então ele reparou na vela feita de galho, cobertor e cordas caprichosamente encaixados a favor do vento. A menina ajudava com o remo quando necessário, mas estava,0 na maioria do tempo, de olhos fechados e braços bem abertos, deliciando-se com o vento passando rápido pelos seus cabelos.
-Você não está com medo? perguntou o barco
Ela sorriu.
-Não
Ele limitou-se a retribuir o sorriso.

domingo, 5 de abril de 2009

Como fazer o tempo passar mais rápido

Escute o despertador
Acorde, lave o rosto, olhe no espelho
Não pense se esse dia vai ser único
Não pense que esse é o único dia 5 de abril do ano de 2009
Engula o café da manhã sem sentir o gosto
Ande com pressa
Não sinta o vento
Não olhe as flores
Não olhe o céu
Pegue o ônibus, não olhe pra ninguém
Não olhe pras imagens passando na janela
Perca-se nos pensamentos cegos
Só pense no dia ocupado como todos os outros que vem aí
Desça do ônibus, ande rápido
Não olhe nos olhos das pessoas da rua
Olhe para o chão
Assista aula, mas sem prazer
Pense somente nas provas, nos trabalhos, nos artigos
Trabalhe, mas trabalhe como máquina
Não seja ousado
Faça o que os outros querem que você faça
Não olhe o pôr do sol
Coloque na sua cabeça que você não tem tempo pra nada
Ame sem intensidade
Faça sexo sem insanidade
Não saia da rotina
Não saia da rotina
Não saia da rotina

segunda-feira, 2 de março de 2009

Bem-vindo, John

Nós somos católicos, muçulmanos, nós somos todos ateus, nós somos filhos de Deus, nós somos carne, osso e sangue, nós somos seres superiores, nós somos animais, um macaco pelado, nós somos cultura, nós somos racionalidade, nós somos sentimentos, nós somos socialistas, anarquistas, comunistas, capitalistas, nós somos frágeis, nós somos fortes, nós somos filhos, irmãos, pais e avós, nós somos alegres, nós somos tristes, nós somos resultado do meio, nós somos destinados a morrer, nós somos médicos, artistas, matemáticos, nós somos globalizados, nós somos selvagens, nós somos violentos, nós somos bélicos, nós somos pacíficos, nós somos amados e odiados, nós somos divertidos, silenciosos, espontâneos, tímidos, extrovertidos, nós somos velhos, nós somos novos, nós somos resultado de uma explosão, nós somos barro, pedra e um assoprão, nós somos todos da mesma nação, nós somos todos irmãos, nós somos todos inimigos, nós somos altruístas, nós somos egoístas, nós somos o que comemos, nós apenas somos o que somos, nós somos eu, você e todo o mundo, nós somos traumatizados, nós somos doentes, nós somos saudáveis, nós somos o que dizemos, nós somos o que fazemos, nós somos constantes, nós somos imprevisíveis, nós somos iguais, nós somos diferentes, nós somos únicos, nós somos um todo, nós somos uma parte. É gostoso ser tantas coisas.

Bem-vindo às perguntas sem respostas.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Se não têm pão, comam brioches

A voz do pretinho que canta não é a sua, não são os seus dedos que se movem rapidamente pelas cordas do violão. Você, momentos antes do celular reclamar no seu bolso, tocava o seu violão, passeando com a sua voz nos ouvidos daqueles a sua volta, ainda não descobri porque espero tanto pra ouvir-te se a ansiedade só aumenta ainda mais. Uma vontade insana de estar aí do seu lado me faz fechar os olhos e de tentar fazer a mente viajar os poucos quilômetros que nos separam, mas consigo apenas chegar até o horizonte de árvores negras sumindo no breu. Mecho-me, desconfortavelmente, na cadeira enquanto todas as outras pessoas olham alegremente umas para as outras, felizes, em paz. Não que eu esteja infeliz, o céu está maravilhosamente estrelado, a brisa salgada balança os meus cabelos com delicadeza, a temperatura está ideal, a companhia é ótima, mas hoje, especialmente hoje e agora, sinto sua falta como nunca senti antes. Hoje preciso de você, preciso dos seus sorrisos, das suas caras, dos seus olhos, estejam eles castanhos ou verdes. Falho vergonhosamente em me distrair. Eu era tão boa nisso! O livro que leio me serve de aspirina para esse aperto no peito, e a culpa é toda sua. Mal consigo desviar a imagem, com esse peito formigando, do seu all star preto momentaneamente molhado, vestido nos seus pés como se nunca tivessem estado em outro lugar antes. Quase me perco pelos corredores silenciosos do hotel, já tarde da noite, delirando com o som abafado dos seus passos ao meu lado no carpete, sentindo o calor na mesma mão que a sua não segura. Entendo agora esse seu medo de sofrer, do medo da abstinência forçada nesse vício sufocante. Fica, amor, senta aqui do meu lado. Abraça-me forte e me olha nos olhos.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Roda Gigante

Um amor sabor menta e cigarros, cheirando perfume e roupas limpas, tira-me o sono, enlouquece-me de desejo, faz-me arrancar a coberta do corpo. Obrigo-me a afundar os longos fios castanhos no travesseiro, longos fios que sentem falta do toque dos seus dedos, mesmo eles tendo se despedido há tão poucos minutos. Vou perdendo a consciência enquanto a sua voz rouca e grave canta-me as minhas canções favoritas. Suspiros e respiração pesada vencem o coração palpitante, finalmente, deixando a mente livre para os meus mais secretos sonhos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Feliz Aniversário

Pai, eu não me estou “desimportantizando” quando fico em silencio diante da pergunta “o que você quer de aniversário”. Eu queria de aniversário de 18 anos que as pessoas se amassem mais, que eu vivesse mais, que eu descobrisse que cada minuto é único. Queria de aniversário que eu deixasse as ideologias e os preconceitos de lado e só me deixasse ser, queria parar de me importar tanto com coisas que eu não me importo, que eu fizesse coisas que eu nunca tinha feito antes, que eu fosse tolerante. Queria uma festa de família em um parque, onde as pessoas sentariam na grama, usando chinelos e roupas leves, e conversariam sobre as coisas mais levianas dessa vida, onde todos estariam se sentindo bem, onde não existiriam problemas de família nem nenhum membro dela faltando. Queria uma festa de aniversário sem lista de convidados, na qual só iriam as pessoas que honestamente se importam comigo. Eu queria poder sair de casa com uma mochila nas costas e um travesseiro, ir até o aeroporto de ônibus e decidir lá qual avião pegar. Eu queria pegar o mesmo ônibus e ir até o aeroporto só pra ver os aviões pousarem, pra ver o sol baixando no horizonte enquanto as pessoas entram e saem. Eu queria que todos os dias fossem os aniversários de todas as pessoas e que todas elas ganhassem felicidade de presente. Eu queria de aniversário tempo, tempo que nunca ninguém tem. Queria saber tocar violão. Eu queria que a internet aqui em casa funcionasse, que nós assistíssemos mais bons filmes em família, que eu pudesse dormir no sofá sempre que eu quisesse, queria poder deixar a cama desarrumada quando desse vontade, queria que a Pucca fosse mais amada, queria que o Charlie morasse com a gente, queria um atelier próprio, queria que o Leo usasse menos o computador, queria que a mãe ficasse menos na cama, queria que você chegasse mais cedo do trabalho, queria que o meu cactus não tivesse morrido, queria o meu computador no meu quarto, queria que a casa fosse menor, queria que o jardim fosse mais espontâneo, queria que a empregada almoçasse com a gente, queria sentar na grama lá fora com vocês três e conversar sobre a semana que passou. Grandes coisas que o dinheiro não compra.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Feliz fôlego novo

Aquele frio na barriga que vem todo ano se atrasou 3 dias em 2009. Engraçado o que me aconteceu hoje, dia 3 de Janeiro, às 4 horas da madrugada, olhando as velhas fotos e os velhos vídeos de um, dois, três, até quatro anos atrás, ainda salvos no meu computador. Sempre tive péssima memória, e me surpreendo até hoje por ainda ter grandes amigos depois de quase esquecer aniversários, programas de Domingo, assunto das conversas, nome dos namorados e namoradas, enfim, a lista é grande. Porém, hoje, enquanto eu olhava estas fotos de festa junina, em um colégio da minha cidade, eu lembrei do cheiro, da temperatura, das vozes das meninas na foto, das risadas, das piadinhas, dos sentimentos. Olhei todas as minhas fotos. Todas elas, sem me esquecer de uma única. Veio, finalmente, aquele frio na barriga, aquele que me visita em todas as passagens de ano. Porque ele demorou tanto pra vir eu ainda não sei ao certo, talvez tivesse sido essa cabeça de adulta, tão diferente daquela nas fotos, preocupada com os foguetes arrancando grunhidos do cachorro cego que eu guardo em casa com carinho, preocupada com o início das aulas, mesmo elas só começando daqui a dois meses, preocupada com o início do ano letivo como professora na escola de inglês, mesmo tendo uma viagem ao litoral antes que isso acontecesse, preocupada com o coração, talvez tivessem sido dezenas de coisas. O que eu sei, de fato, é que estou sentindo o frio na barriga agora, essa coisa gostosa na boca do estomago que faz acelerar o coração, como se fosse uma força dizendo "é nesse ano que você vai mudar o mundo", "é nesse ano que as pessoas vão se amar mais", "é nesse ano que você vai viver cada dia como se fosse único". Fôlego, era disso que eu precisava.