O barco perguntou à menina:
-Vem, menina, sobe aqui. Vou levar você pra passear.
O barco era belo, parecia seguro. Mas a menina desconfiada de barcos que era, hesitou antes de fazer qualquer movimento.
-Vem, menina, vou te mostrar quão bela é a noite de nuvens cinzas e céu azul escuro.
A menina tirou o primeiro pé do chão, seco e sólido, e o firmou cuidadosamente dentro do barco. Este deu uma leve balançada, que quase fez a menina desistir da audácia. Mas o vento da noite pareceu segurar-lhe a mão para que ela não ousasse tirar o pé dali, quase deu um empurrãozinho para que ela firmasse, finalmente, o segundo pé, embarcando por inteiro naquele terreno desconhecido, úmido e instável.
Conhecia bem estes barcos, a menina. A última vez que ela resolveu que era hora de largar a terra firme e ir passear em um barco, ele viajou com ela por longas distâncias, contou a ela milhões de histórias sobre cidades frias, comidas e costumes estranhos, e, repentinamente, desapareceu como faz o mágico com a pomba em um lenço. Sumiu sem deixar vestígios, desapareceu, desintegrou-se no ar. A menina, quando se deu conta, batia-se contra as negras ondas do lago, que de tão frias enfiavam agulhas doloridas em todas as partes do seu corpo.
Ela sentou, tensa, na taboa do meio. Olhos para o local onde a poucos segundos haviam habitado os seus pés. Apertou as bordas do barco como isso fosse garantir que ele não desapareceria. Colocou as mãos entre os joelhos, como que para aquecê-las, e só então se deu conta dos mais diversos objetos que se encontravam no chão do barco.
Uma coberta, um galho de árvore, um remo, cordas, chocolate, um livro e música. O barco, notando que a menina olhava com curiosidade para tais objetos, resmungou:
-Sempre estiveram aí.
-Posso ver? perguntou a menina
O barco deu de ombros e respondeu:
-Como quiser.
A coberta era macia e quente, fazia carinho na pele. O livro, intitulado de "Como fazer uma vela com um galho, uma coberta e cordas" era pequeno, de poucas palavras e muitos desenhos. Ela seguiu os passos e encaixou no fundo do barco o galho, já muito parecido com uma vela. Quando assim o fez, o barco aumentou de velocidade, o que fez com que a menina tentasse agarrar todo e qualquer material na borda do lago que pudesse diminuir a velocidade, ela quase de desespero pulou, de uma vez por todas, para o lago frio. Arrancou a vela improvisada arfando como se tivesse corrido quilômetros. O barco quando viu a restrição da menina quanto à velocidade, fez com que as águas passassem mais devagar pelo seu casco, navegou calma e cautelosamente. Isso, decerto, fez com que a menina se acalmasse.
O barco sugeriu que ela vestisse o cobertor e deitasse no seu peito, pra que assim ele pudesse lhe contar histórias daquela música que infestava o ar com seu cheiro doce, enquanto eles observavam a lua sorridente no céu cheio de estrelas. Essa história puxou muitas outras, passaram os dois, o barco e a menina madrugada a fora contando histórias, memórias e glórias. Ela estava devidamente aquecida e devidamente entretida nas histórias pra perceber o aumento da velocidade no barco. Isso era, possivelmente, sinal de que o barco estava feliz. Ele a segurava contra o peito como se ela fosse sair gritando como já havia feito anteriormente. Adormeceram os dois sob a luz fraca das estrelas e o balanço suave do mar.
No dia seguinte, quando o barco acordou, percebeu que a velocidade havia aumentado, e que desta vez não havia sido ele! Surpreso, ele olhou a menina remando desajeitada, duas vezes para um lado, duas vezes para o outro.
-Estou gostando, justificou ela
-Também estou. Pega um chocolate e deixa eu te contar mais uma história.
Coutou-lhe histórias de outras meninas que haviam sentado naquele mesmo lugar que ela estava agora. Contou-lhe como elas brutalmente pularam do barco, virando-o de cara para o rio congelado, derrubando tudo aquilo que eles haviam colecionado juntos. Ela prometeu-lhe pedir pra ele encostar na borda do lago assim que ela quisesse descer, de forma a não deixar nenhum dos dois vulnerável às águas de agulhas.
O barco estava perdido em pensamentos, quando reparou a menina parada em pé no barco. Ele gritou, desesperadamente:
-Não pule!
Ela olhou-o nos olhos e disse em tom de brincadeira:
-Só se for pular para os seus braços!
Só então ele reparou na vela feita de galho, cobertor e cordas caprichosamente encaixados a favor do vento. A menina ajudava com o remo quando necessário, mas estava,0 na maioria do tempo, de olhos fechados e braços bem abertos, deliciando-se com o vento passando rápido pelos seus cabelos.
-Você não está com medo? perguntou o barco
Ela sorriu.
-Não
Ele limitou-se a retribuir o sorriso.
-Vem, menina, sobe aqui. Vou levar você pra passear.
O barco era belo, parecia seguro. Mas a menina desconfiada de barcos que era, hesitou antes de fazer qualquer movimento.
-Vem, menina, vou te mostrar quão bela é a noite de nuvens cinzas e céu azul escuro.
A menina tirou o primeiro pé do chão, seco e sólido, e o firmou cuidadosamente dentro do barco. Este deu uma leve balançada, que quase fez a menina desistir da audácia. Mas o vento da noite pareceu segurar-lhe a mão para que ela não ousasse tirar o pé dali, quase deu um empurrãozinho para que ela firmasse, finalmente, o segundo pé, embarcando por inteiro naquele terreno desconhecido, úmido e instável.
Conhecia bem estes barcos, a menina. A última vez que ela resolveu que era hora de largar a terra firme e ir passear em um barco, ele viajou com ela por longas distâncias, contou a ela milhões de histórias sobre cidades frias, comidas e costumes estranhos, e, repentinamente, desapareceu como faz o mágico com a pomba em um lenço. Sumiu sem deixar vestígios, desapareceu, desintegrou-se no ar. A menina, quando se deu conta, batia-se contra as negras ondas do lago, que de tão frias enfiavam agulhas doloridas em todas as partes do seu corpo.
Ela sentou, tensa, na taboa do meio. Olhos para o local onde a poucos segundos haviam habitado os seus pés. Apertou as bordas do barco como isso fosse garantir que ele não desapareceria. Colocou as mãos entre os joelhos, como que para aquecê-las, e só então se deu conta dos mais diversos objetos que se encontravam no chão do barco.
Uma coberta, um galho de árvore, um remo, cordas, chocolate, um livro e música. O barco, notando que a menina olhava com curiosidade para tais objetos, resmungou:
-Sempre estiveram aí.
-Posso ver? perguntou a menina
O barco deu de ombros e respondeu:
-Como quiser.
A coberta era macia e quente, fazia carinho na pele. O livro, intitulado de "Como fazer uma vela com um galho, uma coberta e cordas" era pequeno, de poucas palavras e muitos desenhos. Ela seguiu os passos e encaixou no fundo do barco o galho, já muito parecido com uma vela. Quando assim o fez, o barco aumentou de velocidade, o que fez com que a menina tentasse agarrar todo e qualquer material na borda do lago que pudesse diminuir a velocidade, ela quase de desespero pulou, de uma vez por todas, para o lago frio. Arrancou a vela improvisada arfando como se tivesse corrido quilômetros. O barco quando viu a restrição da menina quanto à velocidade, fez com que as águas passassem mais devagar pelo seu casco, navegou calma e cautelosamente. Isso, decerto, fez com que a menina se acalmasse.
O barco sugeriu que ela vestisse o cobertor e deitasse no seu peito, pra que assim ele pudesse lhe contar histórias daquela música que infestava o ar com seu cheiro doce, enquanto eles observavam a lua sorridente no céu cheio de estrelas. Essa história puxou muitas outras, passaram os dois, o barco e a menina madrugada a fora contando histórias, memórias e glórias. Ela estava devidamente aquecida e devidamente entretida nas histórias pra perceber o aumento da velocidade no barco. Isso era, possivelmente, sinal de que o barco estava feliz. Ele a segurava contra o peito como se ela fosse sair gritando como já havia feito anteriormente. Adormeceram os dois sob a luz fraca das estrelas e o balanço suave do mar.
No dia seguinte, quando o barco acordou, percebeu que a velocidade havia aumentado, e que desta vez não havia sido ele! Surpreso, ele olhou a menina remando desajeitada, duas vezes para um lado, duas vezes para o outro.
-Estou gostando, justificou ela
-Também estou. Pega um chocolate e deixa eu te contar mais uma história.
Coutou-lhe histórias de outras meninas que haviam sentado naquele mesmo lugar que ela estava agora. Contou-lhe como elas brutalmente pularam do barco, virando-o de cara para o rio congelado, derrubando tudo aquilo que eles haviam colecionado juntos. Ela prometeu-lhe pedir pra ele encostar na borda do lago assim que ela quisesse descer, de forma a não deixar nenhum dos dois vulnerável às águas de agulhas.
O barco estava perdido em pensamentos, quando reparou a menina parada em pé no barco. Ele gritou, desesperadamente:
-Não pule!
Ela olhou-o nos olhos e disse em tom de brincadeira:
-Só se for pular para os seus braços!
Só então ele reparou na vela feita de galho, cobertor e cordas caprichosamente encaixados a favor do vento. A menina ajudava com o remo quando necessário, mas estava,0 na maioria do tempo, de olhos fechados e braços bem abertos, deliciando-se com o vento passando rápido pelos seus cabelos.
-Você não está com medo? perguntou o barco
Ela sorriu.
-Não
Ele limitou-se a retribuir o sorriso.
