quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Se não têm pão, comam brioches

A voz do pretinho que canta não é a sua, não são os seus dedos que se movem rapidamente pelas cordas do violão. Você, momentos antes do celular reclamar no seu bolso, tocava o seu violão, passeando com a sua voz nos ouvidos daqueles a sua volta, ainda não descobri porque espero tanto pra ouvir-te se a ansiedade só aumenta ainda mais. Uma vontade insana de estar aí do seu lado me faz fechar os olhos e de tentar fazer a mente viajar os poucos quilômetros que nos separam, mas consigo apenas chegar até o horizonte de árvores negras sumindo no breu. Mecho-me, desconfortavelmente, na cadeira enquanto todas as outras pessoas olham alegremente umas para as outras, felizes, em paz. Não que eu esteja infeliz, o céu está maravilhosamente estrelado, a brisa salgada balança os meus cabelos com delicadeza, a temperatura está ideal, a companhia é ótima, mas hoje, especialmente hoje e agora, sinto sua falta como nunca senti antes. Hoje preciso de você, preciso dos seus sorrisos, das suas caras, dos seus olhos, estejam eles castanhos ou verdes. Falho vergonhosamente em me distrair. Eu era tão boa nisso! O livro que leio me serve de aspirina para esse aperto no peito, e a culpa é toda sua. Mal consigo desviar a imagem, com esse peito formigando, do seu all star preto momentaneamente molhado, vestido nos seus pés como se nunca tivessem estado em outro lugar antes. Quase me perco pelos corredores silenciosos do hotel, já tarde da noite, delirando com o som abafado dos seus passos ao meu lado no carpete, sentindo o calor na mesma mão que a sua não segura. Entendo agora esse seu medo de sofrer, do medo da abstinência forçada nesse vício sufocante. Fica, amor, senta aqui do meu lado. Abraça-me forte e me olha nos olhos.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Roda Gigante

Um amor sabor menta e cigarros, cheirando perfume e roupas limpas, tira-me o sono, enlouquece-me de desejo, faz-me arrancar a coberta do corpo. Obrigo-me a afundar os longos fios castanhos no travesseiro, longos fios que sentem falta do toque dos seus dedos, mesmo eles tendo se despedido há tão poucos minutos. Vou perdendo a consciência enquanto a sua voz rouca e grave canta-me as minhas canções favoritas. Suspiros e respiração pesada vencem o coração palpitante, finalmente, deixando a mente livre para os meus mais secretos sonhos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Feliz Aniversário

Pai, eu não me estou “desimportantizando” quando fico em silencio diante da pergunta “o que você quer de aniversário”. Eu queria de aniversário de 18 anos que as pessoas se amassem mais, que eu vivesse mais, que eu descobrisse que cada minuto é único. Queria de aniversário que eu deixasse as ideologias e os preconceitos de lado e só me deixasse ser, queria parar de me importar tanto com coisas que eu não me importo, que eu fizesse coisas que eu nunca tinha feito antes, que eu fosse tolerante. Queria uma festa de família em um parque, onde as pessoas sentariam na grama, usando chinelos e roupas leves, e conversariam sobre as coisas mais levianas dessa vida, onde todos estariam se sentindo bem, onde não existiriam problemas de família nem nenhum membro dela faltando. Queria uma festa de aniversário sem lista de convidados, na qual só iriam as pessoas que honestamente se importam comigo. Eu queria poder sair de casa com uma mochila nas costas e um travesseiro, ir até o aeroporto de ônibus e decidir lá qual avião pegar. Eu queria pegar o mesmo ônibus e ir até o aeroporto só pra ver os aviões pousarem, pra ver o sol baixando no horizonte enquanto as pessoas entram e saem. Eu queria que todos os dias fossem os aniversários de todas as pessoas e que todas elas ganhassem felicidade de presente. Eu queria de aniversário tempo, tempo que nunca ninguém tem. Queria saber tocar violão. Eu queria que a internet aqui em casa funcionasse, que nós assistíssemos mais bons filmes em família, que eu pudesse dormir no sofá sempre que eu quisesse, queria poder deixar a cama desarrumada quando desse vontade, queria que a Pucca fosse mais amada, queria que o Charlie morasse com a gente, queria um atelier próprio, queria que o Leo usasse menos o computador, queria que a mãe ficasse menos na cama, queria que você chegasse mais cedo do trabalho, queria que o meu cactus não tivesse morrido, queria o meu computador no meu quarto, queria que a casa fosse menor, queria que o jardim fosse mais espontâneo, queria que a empregada almoçasse com a gente, queria sentar na grama lá fora com vocês três e conversar sobre a semana que passou. Grandes coisas que o dinheiro não compra.